Boletim 15/2012 – 20 de junho
Alexandre Akashi
Represa não é lugar de desova de carro velho, mas como ninguém tem responsabilidade sobre o assunto, cada um faz o que acha melhor (foto: R7) |
O Rio +20 está chegando ao fim, com um documento com
propostas fracas e pouco objetivas, dizem os analistas. Mas tudo tem um lado
bom: hoje fala-se muito em sustentabilidade, apesar de ninguém saber ao certo o
que essa palavrinha significa. Também não sei. Não ouso tentar defini-la, pois
cada um a entende como acha mais conveniente.
Gosto de pensar que para ser sustentável uma sociedade
tem de dar conta de existir sem danificar o meio ambiente em que vive. Os índios
eram sustentáveis. A grande maioria vivia da extração, retirava da natureza
tudo que precisava para sobreviver, mas sem agredi-la, sem destruí-la. Por que
destruiriam a própria casa?
O homem moderno é civilizado, tem grandes cidades,
grandes construções, grandes engenharias, grandes mentes. Fez prédios, pontes,
estradas, máquinas, aviões, carros, navios, espaçonaves, conquistou o mundo e
busca o espaço sideral, mas a única coisa que arrumou até agora foram grandes
problemas, isso sim!
Poluiu o ar, a água, a terra, exterminou plantas e
animais, e criou coisas que são essenciais para a sobrevivência na selva de
pedra: McDonald's, Coca-Cola e uma porção mais de porcarias que engordam e
matam precipitadamente. Tudo em nome da modernidade.
Bom, esta é a verdade nua e crua. Temos de mudá-la. Temos
de nos desenvolver de forma sustentável a partir de agora. Sabemos o que vai
nos matar, mas acredito que tudo isso é como convencer um fumante a parar de
fumar. Ele sabe que cada vez que acende um cigarro encurta a vida em alguns
minutos.
Então, o que fazer? Simples. Rever conceitos e
prioridades. Consumir de forma mais inteligente. O interessante é que não é
preciso abrir mão das coisas boas do mundo para ser sustentável. Basta
compensar o meio ambiente e pronto!
O setor automotivo (poxa Alexandre, até que enfim você
vai falar de carro nessa coluna!) precisa aprender a viver assim. O carro nasce
de um esboço, um desenho na mesa do designer, riscado com lápis, sem linhas
muito definidas, quase uma ideia que é posta em um rascunho de rabiscos que
depois de um longo processo vira o que vemos hoje nas ruas.
Nesse meio tempo, a indústria aprendeu que menos é mais.
Menos matéria-prima é mai dinheiro no bolso. Menos desperdício é mais dinheiro
no bolso, e assim tem investido em processos para tornar a produção o mais enxuta
e limpa possível, com o menor número de defeitos e retrabalhos possíveis. Não porque
quer fazer tudo bonito sempre, mas porque não quer gastar rios de dinheiro. E esse
processo não admite erros, pois erros são recalls e recalls, prejuízos.
Há centenas de exemplos de indústrias que operam com erro
na casa do 0,01 PPM (partes de milhão) de erro na produção de peças. E esse
número é considerado alto por muitos. Há outras centenas de exemplos de
indústrias que aproveitam água da chuva, energia solar, iluminação natural, e usam
de outros artifícios para economizar o máximos os recursos naturais. São de
tirar o chapéu e aplaudir, e imitar.
Mas, a responsabilidade sócio-ambiental acaba quando o
carro sai da concessionária. Pronto, aí a coisa entorna. Até o momento da venda
para consumidor, o carro era um problema da montadora. Depois, não. É problema
de quem comprou. Quem mandou querer ter um carro? Afinal, pra que você quer ter
um carro? Para ter um problema em casa?
Se a resposta foi sim, você também precisa mudar seus
conceitos. Na nova ordem econômica ambiental, quem produz deve ser responsabilizado
pelo produto do início ao fim da vida desse produto. É como a maternidade. A mãe
pode até negar o filho, mas ele é dela até o dia que um dos dois morre.
Mas Alexandre, que ideia maluca! Maluca nada. É preciso
lembrar que já há setores da indústria automotiva que são obrigados a recolher
e dar a correta destinação dos produtos que fabrica, como é o caso das baterias
automotivas. Por que você acha que elas tem valor no mercado, mesmo depois que não
servem mais para usar no carro? Porque são ótimos enfeites de geladeira? Claro que
não!
A verdade é que quando falamos desse assunto mexemos com
o que as montadoras têm de mais precioso: o bolso dos acionistas. Mas parem
para pensar: se continuar nesse ritmo, logo não haverá mais para quem vender
carros novos, pois o mundo estará tão cheio deles que não haverá mais espaço
para outros. Será que só assim vão enxergar que o problema é deles também?
O fabricante do automóvel não está nem ai para o produto
que fez depois que ele saiu da concessionária. Se o carro precisar de revisão,
problema de quem o comprou. Manutenção, então? O que é isso? E se quebrar? Mas isso
é muito radical, Alexandre? Será mesmo?
Se as montadoras estivessem realmente interessadas em
manter a frota de carros que ela comercializa todos os anos muito bem servida e
mantida, aumentaria a rede de oficinas oficiais na mesma velocidade que as
vendas aumentam. Se em um ano ela vende 100.000 carros e a vida útil de um automóvel
é em média 10 anos, em 10 anos serão 1.000.000 de unidades nas ruas. Assim ela tem de ter capacidade para atender
todos esses carros.
Claro que nem todos vão precisar de oficina ao mesmo
tempo, mas se no primeiro ano a marca tinha 100 concessionárias com oficina
para atender 100.000 carros, quantas oficinas tem de ter ao final de 10 anos
para atender 1 milhão?
Mas Alexandre, é difícil abrir uma concessionária com oficina
só pra isso! Pois é. Mas não precisa abrir nada, pois já tem um monte de
oficinas abertas. O que precisa é parar com essa mentalidade de que só a
concessionária sabe consertar o carro da marca, pois isso é tapar o sol com a
peneira.
As oficinas multimarcas prestam um serviço extremamente
importante para as montadoras ao permitir que o carro que elas produziram anos atrás
continue funcionando tão bem quanto saíram de fábrica. E o que ganham com isso?
Nem um obrigado, mas, sim, uma nota de repúdio, pois quem disse que esse Zé ai
sabe consertar meu carro?
Pois é, quem disse? Sabe quem? O dono do carro. E quem é
mesmo o dono do carro? Ah, sim, é o cliente da marca. Será mesmo? E como a
marca trata esse cliente? Com descaso, pois não se dá ao trabalho de nem ao
menos oferecer a ele uma alternativa de onde levar o veículo para uma
manutenção, que não seja a rede concessionária, que nem sempre tem vaga pra
ele.
A oficina é um local de bem estar social, uma vez que
desenvolve um trabalho de ambientalista. O diretor do Sindirepa-SP, Antonio Gaspar,
sempre diz que o trabalho do reparador automotivo é manter em os carros em bom
funcionamento tal como foi projetado, e isso é benéfico ao meio ambiente uma vez
que carro desregulado polui mais.
Oficinas geram resíduos e por isso têm de ficar atentas
para que o benefício ambiental da regulagem do motor não seja prejudicado pela
sujeira que fica para trás. Há normas e leis para que regulamentam isso, e
inclusive uma certificação desenvolvida em parceria entre IQA e CESVI BRASIL, o
Selo Verde.
O trabalho das oficinas pode ser facilitado pelas
montadoras, que dizem que sabe tudo sobre os produtos que montam, mas sabem
menos do que os reparadores que diariamente encontram problemas para serem
resolvidos. Um pode aprender com o outro, mas o que é importante mesmo para o
planeta é que a montadora tenha mais responsabilidade sobre o automóvel que
fabrica, do início da concepção ao correto descarte e reciclagem do mesmo.
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