No início da semana ocorreu em São Paulo o Simea 2012 (Simpósio
Internacional de Engenharia Automotiva), realizado pela AEA (Associação
Brasileira de Engenharia Automotiva), que debateu o tema A contribuição da
Engenharia Automotiva para o transporte e trânsito mais sustentáveis.
Pelo resumo das atividades do evento (leia texto abaixo)
é possível dizer que ainda estamos longe de ter no Brasil transporte e trânsito
mais sustentáveis, apesar de o evento ter deixado claro que todo mundo (governo,
empresários, estudiosos e sociedade civil) conhece a ‘receita do bolo’.
Sob este ponto de vista, o Simea foi um sucesso, pois
trouxe o debate à tona, e iniciou assim um longo caminho que deve ser
percorrido até chegarmos a um desfecho que beneficie a população.
Porém, na minha modesta opinião, falta vontade (política,
econômica, social, educacional, religiosa e tudo mais), pois se fosse para
valer, obstáculos já teriam sido superados. Mas, a vontade que mais falta é a
coletiva, pois o que vemos com mais frequência são as vontades individuais
serem sempre preservadas. Vontades individuais devem ser entendidas como
vontades específicas.
Leia abaixo resumo dos debates do evento, que em 2013 terá
como tema “10 anos de veículos Flex – qual a próxima inovação?”
Propostas
factíveis de trânsito e transporte mais sustentáveis marcam SIMEA 2012
“A contribuição da
Engenharia Automotiva para o transporte e trânsito mais sustentáveis” foi o
tema principal da 20ª edição do Simpósio Internacional de Engenharia Automotiva
– SIMEA 2012 -, promovido pela Associação Brasileira de Engenharia Automotiva
(AEA) e realizado nos dias 24 e 25 de setembro, no Sheraton WTC Hotel, em São
Paulo (SP). O evento contou com a participação de cerca de 800 profissionais do
setor automotivo brasileiro.
A busca por melhorias no transporte público, soluções
alternativas, importância da iniciativa privada para o desenvolvimento do
setor, necessidade de incentivos para capacitação de engenheiros e renovação de
frota foram alguns dos pontos importantes levantados durante o evento. Dois painéis, “Trânsito de Transporte –
Números e Representatividade do Setor” e “A Utilização da Tecnologia na Redução
de Acidente de Trânsito”, e 30 sessões técnicas marcaram o primeiro dia do
SIMEA 2012.
A cerimônia de abertura contou com a presença de
importantes nomes do setor automotivo, como Antonio Megale, presidente da AEA,
Roberto Cortes, presidente da MAN Latin America e da comissão organizadora do
evento, Guilherme Afif Domingos, vice-governador do Estado da São Paulo; Marco
Saltini, vice-presidente da Anfavea e Sergio Pin, conselheiro do Sindipeças.
“No ano passado, o Brasil era o 4º maior produtor de
automóveis do mundo, sendo que hoje ocupa a quinta colocação e no mês passado
tivemos um recorde de emplacamento com mais 420 mil unidades. No entanto, a relação
de habitantes por automóvel mostra que não chegamos ao limite. Como o
deslocamento por automóvel é o método mais lento hoje em dia nos grandes
centros urbanos, é preciso investir em melhorias da mobilidade com uma série de
ações conjuntas das áreas para que o problema seja minimizado”, afirmou Megale.
“Precisamos de um salto para a integração dos setores e
buscar soluções para os problemas de infraestrutura porque o crescimento hoje
ocorre em maior velocidade do que a capacidade”, disse o vice-governador do
Estado de São Paulo. Afif ainda lembrou que o Estado é hoje a 18ª maior potência
econômica do mundo e o Brasil é carente de engenheiros e profissionais
capacitados. O vice-governador mencionou ainda que há necessidade de se
incentivar a indústria da “desmontagem” de veículos automotores, de modo a
renovar a frota circulante e de reduzir ainda mais os níveis de emissão de
poluentes.
A palestra de abertura do evento foi ministrada por
Roberto Cortes. “O transporte rodoviário em nosso país é o mais intenso modal
de carga e de passageiros. As estatísticas mostram que 60% do transporte de
todos os bens são feitos por caminhões e, em seguida, pelo sistema
ferroviário”.
O presidente da MAN Latin America ressaltou ainda que as
iniciativas para a busca de um transporte mais sustentável já é uma realidade,
se considerada a evolução no caso dos caminhões, com a chegada do Euro
V/Proconve P-7 que reduziu em quase 80% a emissão de gases.
O Painel I do SIMEA 2012, que trouxe o tema “Trânsito e
Transporte – Números e Representatividade do Setor”, debateu a visão
macroeconômica do setor de transporte, alinhamento com políticas
administrativas das cidades e a contribuição da iniciativa privada na melhoria
geral do sistema. A palestra “Trânsito e Transporte: Números e dados
econômicos” foi ministrada por Carlos Henrique de Carvalho, técnico de
Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Política do IPEA. Marco
Saltini, diretor de Relações Institucionais e Governamentais da MAN Latin
America liderou a palestra “Evolução automotiva orientada ao trânsito e
transporte”. Na oportunidade ressaltou que para lidar com a mobilidade é
preciso pensar em tecnologia, emissões, segurança e conforto.
O presidente da Associação Nacional de Transportes
Públicos (ANTP), Ailton Brasiliense, em palestra “Trânsito: o paradigma do
transporte individual x público”, apontou necessidade de crescimento dos 74 km
de trilhos de metrôs atuais na cidade de São Paulo, exibindo futura rede e
importância dos futuros prefeitos e governadores, independente de seus
partidos, darem continuidade ao projeto. Brasiliense ainda insistiu em um
modelo de cidade que estimule que as moradias e comércio sejam locados na
cidade de forma mais agrupadas, próximas aos trilhos. “O futuro que a gente
quer é possível. Vamos construir”, concluiu Brasiliense.
O painel I finalizou após um debate com a participação do
público presente, ministrado pelo jornalista e diretor de redação da Transporte
Mundial, Marcos Villela.
Entre os dois painéis do primeiro dia do SIMEA 2012, um
total de 30 sessões técnicas dos mais variados temas foram apresentadas. Entre
os assuntos: Emissões e Simulações, Projeto e Tecnologia do Veículo, Motores e
Transmissões, Manufatura e Processo e entre outros.
A sessão técnica “Controle de Emissões em Motocicletas e
Ciclomotores e valores típicos de emissões Evaporativas de acordo com a nova
fase do Promot”, por Marcelo Depiere, da Magnetti Marelli, mostrou que como a
indústria de motos evoluiu tecnologicamente para atender os limites de
emissões. “Hoje no Brasil são produzidas 2 milhões de motocicletas por ano,
sendo que o país é o quinto colocando no ranking em todo o mundo. De acordo com
Depiere, os limites definidos pela legislação trará uma redução das emissões de
hidrocarbonetos para o meio ambiente. “Há ainda necessidade de ações de
montadoras em busca de tecnologia disponível no mercado e o do uso do
cânister”.
O Painel II “A Utilização da Tecnologia na Redução de
Acidentes de Trânsito” debateu entre os palestrantes a atual estatística de
acidentes, melhorias conquistadas, sensibilização para a questão da educação no
trânsito e as novas tecnologias aplicadas nos veículos aliados à infraestrutura
viária e urbana com efetivo resultado.
“Infraestrutura viária, educação no trânsito e tecnologia
três fatores fundamentais para a redução de acidentes”, afirmou Ricardo Plöger,
gerente de Desenvolvimento de Produto da Volkswagen do Brasil, durante palestra
“Tecnologias Embarcadas para a Redução do Número e da Gravidade dos Acidentes
Veículos Leves”. Na oportunidade, Ricardo informou que hoje o trabalho por
parte das montadoras está na segurança integral, viabilizando a segurança ativa
e passiva, como o desenvolvimento de freios mais inteligentes. “No futuro bem
próximo o network de vários sistemas que evitam os acidentes de trânsito, como
por exemplo, um sinal de alerta quando houver um motociclista no ponto cego do
automóvel, diz Ricardo.
“Tecnologias Embarcadas para a Redução do Número e da
Gravidade dos Acidentes Veículos Pesados” foi a apresentação de Fábio Lorençon,
engenheiro de Aplicação e Vendas de Ônibus da Volvo Latin America, que tratou
de apresentar tecnologias desenvolvidas pela marca para a redução de acidentes.
Lorençon informou ainda que a Volvo mantém um grupo global permanente
responsável por estudar ônibus e caminhões.
“E são a partir destes dados que iniciamos o
desenvolvimento de sistemas tecnológicos com o objetivo de aumentar a
segurança”, diz. O engenheiro apresentou algumas novidades, como freios a disco
controlados por EBS, o que representa 15% maior de eficiência de frenagem. Este
traz função ABS, controle de tração, auxilio frenagem , frenagem de emergência
e auxílio de arranque e, de acordo com Lorençon, reduz até 67% o risco de
acidente.
A última palestra do dia - “O Desafio na Redução de
Acidentes” - foi apresentada por José Aurélio Ramalho, diretor presidente do
Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV). Um cenário do trânsito brasileiro, com
projeção de cerca de 512 mil indenizações de DPVAT em um ano, sendo que deste
total 285 mil são sequelados e indenizados por invalidez e 60 mil óbitos por
ano. Em uma hora morrem 7 pessoas no País vítimas de acidentes de trânsito.
“Estudos e pesquisas, consolidação de dados para realizar
trabalhos educativos são os pilares iniciais para uma boa campanha de
conscientização”, disse Ramalho que tratou ainda de elencar os autores do
trânsito: veículos, as vias e treinamento, sendo este o ponto o mais crítico
com a necessidade de formação, habilidade e comportamento (atitude).
Para finalizar o Painel II e as atividades do dia, a
apresentação “Soluções para Grandes Metrópoles” foi ministrada por dois palestrantes:
Mauricio Lima Ferreira, diretor de Tecnologia da Informação da SPTrans e Valter
Vendramini, assessor técnico da Secretaria Municipal de Transportes. O Painel
II encerrou após um debate mediado pelo jornalista Joel Leite, da AutoInforme.
Intermodais e soluções alternativas - O segundo dia do
SIMEA 2012 ocorreu ontem, dia 25. Dois painéis, mais 20 sessões técnicas e uma
mesa redonda compuseram o programa oficial do principal evento do setor.
O Painel III “Intermodais e Integração Urbana: Como
Promover a Real Integração no Transporte” debateu a necessidade de como
integrar todos os intermodais disponíveis nas cidades de modo a não interferir
nos modais atuais. “O Transporte e os Diferentes Modais da Região Metropolitana
de São Paulo” foi a primeira palestra do painel ministrada por Ivan Metran
Whately, assessor especial da Secretaria Municipal de Transportes.
Whately apresentou modais de transporte público de média
capacidade na Região Metropolitana de São Paulo, como o Projeto de Monotrilho,
com 64 quilômetros de extensão, cuja a capacidade de transporte é de 15 mil a
48 mil passageiros por hora. Whately ainda acrescentou que 71% das viagens
motorizadas envolvem a região Metropolitana de SP.
O diretor da G-Linder, Alvaro Vaccari, em apresentação“Planejamento
Estratégico”, defendeu o uso dos Veículos Urbanos de Carga (VUC) e apontou que
se trata de uma tendência de utilização, já que os benefícios são visíveis
principalmente para as cidades que restringem a circulação de caminhões nos centros
urbanos. De acordo com Vaccari, até dezembro a previsão é que as vendas dos
VUCs cresçam em 15%. Em fevereiro de 2012, uma feira de negócios destinada ao
segmento, a VUC Fair, será promovida pela primeira vez. O Painel III finalizou
com um debate mediado pela repórter especial do Valor Econômico Marli Olmos.
Alternativas para reduzir emissão de poluentes de forma
eficiente com as apresentações de soluções sustentáveis. O Painel IV “Melhoria
na Eficiência do Transporte Alternativo” contou com a participação de quatro
palestrantes que trouxeram experiências distintas.
Em palestra “Veículos Leves Alternativos: Experiência
Real”, o panelista Antonio Calcagnotto, diretor de Relações Institucionais da
Renault/Nissan, apresentou um caso real e de sucesso no Brasil instituído pela
marca. Trata-se de um táxi elétrico que já opera na região central de São
Paulo. “Hoje um carro elétrico é limitado a 200 km de autonomia, sendo que a
média brasileira é de 45 km por dia. No entanto, para tornar o carro elétrico
viável é preciso de incentivos governamentais e que as companhias de energia
elétrica expandam fontes de eletricidade renováveis.
O gerente de engenharia de produto da Nissan, Yochio Ito,
complementou a apresentação acima informando que o desenvolvimento do carro elétrico
tem como objetivo principal o ataque ao CO2 e a Nissan, empresa na qual atua,
já tem um histórico quando o assunto é produção sustentável, já que produziu
seu primeiro automóvel elétrico em 1947.
O professor da USP, Marcelo Massarani, em “Exigências
Futuras para Grandes Centros” apontou estudo na qual informa que 65% dos
motoristas frequentes abandonariam o carro se o transporte público fosse
eficiente e 88% pedem a construção de mais ciclovias.
Maria Ermelina Malatesta, chefe do Departamento de
Planejamento Cicloviário da CET, em “Visão Urbanística para Melhoria do
Transporte”, complementou que o sistema viário é um recurso limitado e defendeu
a uso da bicicleta como solução para os deslocamentos rápidos na região
metropolitana. O Painel IV foi encerrado após debate mediado pelo jornalista e
diretor de redação da Car Magazine, Heymar Nunes.
Na Mesa Redonda ”Renovação de Frota: Um Caminho
Alternativo para Redução das Emissões e Acidentes”, o jornalista Pedro Kutney
foi convidado a coordenar os trabalhos deste debate que discutiu as
oportunidades e desafios que serão enfrentados por ocasião dos grandes eventos,
em nome da sustentabilidade e da mobilidade urbana. Novas regras das emissões e
legados sustentável às cidades.
O tema “Melhorias nas Emissões: Renovação de Frotas” foi
introduzido por Gabriel Murgel Branco, diretor da EnvironMentality, que
defendeu a pauta e tratou de apontar as principais vantagens, tal como redução
das emissões e melhoria dos combustíveis.
“O caminho mais indicado para melhorar a qualidade do ar
e a redução dos acidentes é entender o painel modal do transporte no Brasil”,
disse Márcio de Almeida D’Agosto, da Coppe-UFRJ, por meio do tema “Influência
na Matriz Energética na Emissão de Poluentes”.
D’Agosto também defendeu a necessidade da renovação da frota ao criar
valores e reintroduzir os veículos antigos na indústria, seja por meio de
reciclagem ou reutilização de peças.
Introduzindo o tema “Fontes Geradoras de Etanol”, o
consultor técnico da Unica, Alfred Szwarc, defendeu os incentivos diferenciados
para os veículos Flex com maior eficiência energética e menor emissão de
poluentes. Já Marcelo Pereira Bales, do Setor de Avaliação de Programas de
Transporte, apresentou a situação da frota de caminhões no Porto de Santos e um
programa que incentiva à renovação em introdução ao tema “Estimativas de Ganho
Ambientais do Programa de Renovação da Frota de Veículos no Porto de Santos”.
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