Boletim 11/2012 – 23 de maio
Alexandre Akashi
Portal do reparador Fiat |
Incentivo ao consumo. As novas medidas de redução de IPI
para veículos zero km anunciadas esta semana pelo governo federal mostra o
quanto vivemos sem regras definidas. Impossível assim planejar qualquer tipo de
ação de longo prazo, mas, enfim, esta é uma manobra válida, pois vale tudo para
evitar uma recessão, certo?
Bom, acontece que este é um jogo perigoso. Devemos lembrar
que até poucos dias atrás o debate era sobre o aumento de 30 pontos percentuais
no IPI, a não ser que as montadoras comprovassem que investem em pesquisa e
desenvolvimento, assim como na nacionalização dos componentes.
Não vou entrar na questão dos percentuais, pois são tão
baixos que qualquer montadora com um mínimo de investimentos no Brasil atinge
as cotas. Mas pegou em cheio as importadoras, que ainda temem pelos empregos
dos cerca de 35 mil brasileiros que trabalham nas concessionárias, escritórios,
oficinas e demais departamentos.
Portal do reparador Chevrolet |
Enquanto o governo presta atenção nas vendas de veículos
zero km, e muda a regra do jogo de acordo com o que julga necessário para
movimentar o setor, o mercado de reparação vive como sempre: marginalizado. Uma
pena, pois 80% dos carros que rodam pelas ruas, avenidas e estradas brasileiras
recebem manutenção em oficinas fora das redes concessionárias.
Até hoje não entendo por que isso acontece. Não mesmo,
uma vez que o mercado de reposição e reparação de automóveis é tão grande
quanto o de carros zero km. Tudo bem, não tem o mesmo glamour afinal as
montadoras são multinacionais e muitas fornecedoras de peças também, mas em
termos de volume financeiro, movimenta bilhões de reais todos os anos.
Está certo que é um volume de dinheiro descentralizado,
pulverizado, que nasce em quase 100.000 oficinas, passa por algumas dezenas de
milhares de lojas de autopeças, algumas milhares de distribuidoras e outras
milhares de fabricantes e importadores de autopeças. Mas saibam que uma das
quatro grandes montadoras sozinha comercializa algo em torno de R$ 2 bilhões em
peças por ano, além da venda de carros zero km.
A quantidade de dinheiro que uma oficina movimenta no
mercado de reposição pode parecer pequeno, mas quando juntamos as quase 100.000
em um único cesto, o milagre acontece. Fiat e Chevrolet já perceberam isso e
criaram ferramentas para conhecer melhor as pessoas que consertam os carros da
marca, por meio dos portais voltados ao reparador.
Disponibilizam lá algumas informações de modelos mais
antigos, mas que ainda são maioria nas ruas, e permitem a qualquer profissional
o acesso irrestrito às informações técnicas. Em troca, vendem o apelo da peça
genuína, que é a mesma usada no carro, na linha de montagem.
Mas, se uma única montadora vende no mercado de reposição
R$ 2 bilhões por ano, poderia ao menos oferecer um pouco mais do que apenas
informações técnicas de modelos antigos, não? O fato de a lei obrigar o
fabricante a manter uma rede de oficinas para dar manutenção nos veículos
provoca certo descontentamento entre os próprios parceiros, a rede
concessionária, pois muitos são excelentes vendedores de carros, mas péssimos
empresários da reparação.
Eles sofrem tanto quanto as oficinas multimarcas, pois
poucos entendem do negócio de reparação e muitos jogam todo lucro da venda de
carros em má administração da área de serviços. Assim, por que insistir?
Há uma forma mais eficiente de ser fazer a manutenção
automotiva. Todo empresário do setor de reparação sabe o quanto é importante
manter os funcionários capacitados e por isso hoje contamos com uma extensa
rede de oficinas multimarcas independentes que podem ser melhor exploradas.
Assim, por que não aproveitar essa capacidade instalada e
formar postos autorizados? Tenho certeza de que o dono do carro vai aprovar a iniciativa
e, com certeza a venda de peças genuínas vai aumentar. Não é à toa, que as
grandes marcas de autopeças já partiram para este caminho, tal como Bosch,
Delphi, Magneti Marelli, entre outras (posso citar pelo menos uma dúzia de
empresas).
E, além disso, existe um outro mercado pronto para ser
explorado e que tem tudo para movimentar outros bilhões de reais por ano. Mas este
é assunto para um próximo boletim.
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