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Farol Alto

E se a engenharia mandasse no financeiro?

quarta-feira, 3 de outubro de 2012


Boletim 30/2012 – 3 de outubro

Alexandre Akashi

Sistema de injeção direta: ECU, bicos injetores de alta pressão, bomba de alta pressão e sensor de pressão
Há alguns dias, participei de encontro interessante promovido pela Ford, em que a montadora norte-americana anunciou a vinda parcial da nova família de motores EcoBoost ao Brasil. Este foi o tema centra do boletim da semana passada, Eficiência é o nome do jogo. Neste workshop, ocorreu um debate interessante em que engenheiro de motores da Ford, Volker Heumann, deixou bem claro a interferência do departamento financeiro da empresa sobre o que pode e o que não pode ir ao mercado.

Em um mundo capitalista, nem sempre a tecnologia que traz mais benefícios ao ser humano é a melhor para a empresa, lamentavelmente, pois tudo tem uma etiqueta com preço e, tal como em um supermercado, é preciso passar no caixa antes. Estão errados? Não necessariamente. Mas, e se o financeiro não fosse uma barreira? Onde estaríamos?

Não é preciso ir muito longe para saber a resposta. Começou ontem (terça-feira) em São Paulo, e termina amanhã (quinta – então dá tempo de ir conferir), o 21º Congresso e Exposição Internacionais e Tecnologia da Mobilidade SAE BRASIL, em que os principais desenvolvedores de tecnologia automotiva se reúnem para mostrar o que ainda está por vir. Com esta dúvida em mente, consultamos alguns dos mais notáveis engenheiros do setor.

Na visão do responsável por desenvolvimento e pesquisa em automotive lighting da Magneti Marelli, Meister Laurent, os faróis serão algo que ele definiu como Matrix Beam, um quadro de LEDS controlados por um módulo capaz de controlar o direcionamento do feixe de luz exatamente onde é necessário, evitando ofuscamento do veículo adiante e do que vem no contra-fluxo. Já para as lanternas, as apostas são nos OLEDS (Organic LEDS), que podem ser resumidos, a grosso modo, com uma fina e flexível tela que emite luz própria. “Pode ser aplicada em toda carroceria, sem espessura, sem nada”, afirma Laurent, que acredita ser possível viabilizar tecnicamente estas tecnologias em prazo de cinco anos.

Mas, enquanto isso, em uma realidade ainda de terceiro mundo, os planos da Magneti Marelli são difundir a tecnologia dos faróis Xenon entre as montadoras brasileiras, que insistem em produzir e vender somente carros baratos e de baixo conteúdo tecnológico (pois é o que o mercado quer, dizem sempre). E, como as montadoras não querem gastar muito, a Marelli desenvolveu um sistema de farol de Xenon de 25W com módulo integrado à carcaça, tipo plug-in, 12 volts, que trabalha a 2.000 lumens - e dispensa, assim, sistema de lavagem e de autorregulagem, tornando mais barato o sistema -, para substituição das lâmpadas halógenas.

Já o gerente de vendas e marketing da Bosch, Sidney Oliveira, afirma que o desenvolvimento tecnológico vem a reboque das legislações, principalmente as que limitam emissões de gases poluentes e de efeito estufa (na Europa, claro), assim como o mercado que imprime cada vez mais exigências de redução de consumo. Penso que é uma pena esse caráter reativo, mas é real.

Como empresa global, muitas tecnologias já existem onde as leis são mais rígidas e assim o exercício de futurologia é mais simples. Carros com motores ciclo Otto de injeção direta de combustível e turbo compressores e sistema Start-Stop (que desliga o motor em situações pré-determinadas), são alguns exemplos de componentes automotivos que já são comuns lá fora e passam por constantes evoluções.

É de se esperar, assim, que a injeção direta seja adaptada para funcionar bem com etanol, um desenvolvimento que a Ford já disse ter iniciado e que a Bosch já confirmou estar em processo de validação. O etanol só queima quando é vaporizado. A injeção direta na câmara de combustão em alta pressão faz exatamente isso. Conclusão: adeus tanquinho e adeus sistema de aquecimento do combustível na fase fria. A tecnologia está pronta. Quanto tempo mais vamos ter de esperar para desfrutar dela? Até lá, quanto CO2, HC e outros gases serão jogados na atmosfera desnecessariamente?

O Start-Stop da Bosch já está na terceira geração, o que significa que pode inclusive controlar o funcionamento do motor de forma mais eficiente inclusive em velocidades constantes, em uma viagem rodoviária, por exemplo, além claro das operações das gerações anteriores: na primeira o motor desliga sempre que o carro está parado, e na segunda o motor desliga momentos antes de o veículo parar. Conclusão: até 25% de economia de combustível. Por que ainda não está em todos os veículos brasileiros? Sem comentários...

O supervisor de engenharia da Delphi, Carlo Neves, concorda com o colega da Bosch e também comenta que já estão em pleno desenvolvimento do sistema de injeção direta para uso com etanol. Essa será uma corrida e tanto, tenho de admitir, tal como foi a do sistema flexfuel (gasolina/etanol).

Porém a missão de Neves foi apresentar uma tecnologia um pouco menos sofisticada, o sistema Delphi de eliminação do tanquinho, que ao contrário do concorrente, que aquece o combustível na flauta, optou por aquecer no bico injetor. Uma vantagem é que no momento da ignição, o combustível residual do bico (ainda que sejam gotinhas) também passa pelo processo de aquecimento e isso reduz ainda mais as emissões na fase fria de funcionamento do motor, que é o pior momento de emissões de um automóvel.

Mas a desvantagem é que o bico injetor fica mais caro do que o convencional, ainda que para a montadora, no montante do sistema, o custo acaba ficando quase o mesmo, segundo a Neves. Este sistema deve estrear em um modelo chinês, que será apresentado no fim de outubro, no Salão do Automóvel.

Turbo
Já na visão do gerente de contas da BorgWarner, Reinaldo Paulino, o ideal é a utilização de sistemas tri-turbo para maximizar a eficiência do motor. “Nesta solução, aproveitaríamos 100% do potencial dos gases de escape”, avalia. Fato é que na Europa, a média de utilização de turbo é de 50% do total de veículos fabricados. “Em alguns países chega a 70%, por conta do automóvel diesel”, diz.

A onda começa a chegar ao Brasil, e não haverá escapatória, pois nossas montadoras serão obrigadas a oferecer carros mais eficientes ao consumidor, por força de lei (talvez, e muito provavelmente, não tão intensamente quanto na Europa, mas, haverá lei).

E, nesse movimento, a Freudenberg-NOK demonstrou o Levitex®, interessante sistema de vedação de motores que vai deixar o bom e velho retentor ultrapassado, em pouco tempo. A inovação é baseada em uma ideia simples, mas que precisou de imaginação para realizar. São dois componentes metálicos, um acoplado ao eixo e outro ao motor, que em repouso se tocam e impedem a saída de óleo do motor.

Ao girar o motor, internamente da parte ligada ao eixo, uma lamina redonda com aletas em baixo relevo milimétrico atua como uma hélice. O movimento faz a lamina recuar fazendo com que o ar empurre o óleo sempre para dentro do motor. Simples e fantástico! Se funcionar, pois ainda trata-se de uma inovação em processo de validação, eliminará por vez a necessidade de troca do rententor.

Ainda há mais para se ver neste evento, portanto recomendo a todos uma tarde de visitação a mostra de engenharia. É possível concluir assim que se não fosse o financeiro... ah! Quanto o mundo seria melhor e mais saudável! Quanto combustível economizaríamos! Quanto melhor seria nossa vida! Mas, quanto será que um carro custaria, então? Depende de quanto a fábrica conseguir entregar. Consumidor para comprar é o que não falta.

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