Boletim 14/2011 – 5 de dezembro
Alexandre Akashi
Uma notícia divulgada no blog Clube das Oficinas, editado
pelo amigo Alexandre Carvalho, do Cesvi Brasil, chamou minha atenção. “Desmontagem
de veículos em discussão”, era o título, e versava sobre debate realizado
durante o Congresso Fenabrave, ocorrido no final de novembro, com a participação
de grandes figuras públicas, como o vice-governador do Estado de São Paulo,
Guilherme Afif Domingos, e os presidentes da Anfave e Fenabrave, Cledorvino
Belini e Sergio Reze, respectivamente.
Na nota, Reze se mostrou muito preocupado com o fato de a
cidade de São Paulo não possuir um sistema de desmontagem de veículos, e fez
uma convocação oficial, na presença de todos, para a mobilização em favor ao
descarte correto dos veículos que não têm mais condições de uso.
Há um dado alarmante divulgado pela Fenabrave neste
evento: dos quase 7 milhões de veículos que circulam pelo Estado de São Paulo, cerca de 3 milhões não deveriam estar nas
ruas, por não oferecerem condições de segurança no trânsito. Afif confirmou que
cerca de 30% da frota de veículos da cidade não deveria estar em circulação por
conta do estado de conservação.
Bom, diante desta discussão, há mais um fato que precisa
parar de ser discutido e ser colocado em prática o quanto antes: a Inspeção
Técnica Veicular. Esta é a ferramenta que falta para obrigar os proprietários
destes veículos a deixá-los em condições de uso, ou então tirá-los de
circulação.
A inspeção técnica veicular deve ser instaurada e
aplicada nos moldes similares ao da inspeção ambiental veicular na cidade de
São Paulo, com verificação anual a partir do segundo licenciamento, até que a
população crie a cultura da manutenção preventiva, o que pode levar décadas. É
um bem necessário.
Paralelamente é preciso de um programa de descarte,
claro, e também fiscalização, pois de nada adianta ter leis se não há
fiscalização. Vale lembrar que muitos destes carros sem condições de uso rodam
ilegalmente, com documentos vencidos, e já não pagam impostos há tempos.
E, por falar em impostos, outro item que deve mudar é a
forma de tributação, que não incentiva a renovação da frota, mas, sim, a
manutenção do carro velho, pois o IPVA fica menor de acordo com o avanço da
idade do carro, até a sua isenção, depois de 20 anos de fabricação. Assim, para
que trocar? Melhor ficar com o velho, pois não há fiscalização sobre o estado
de conservação do veículo e, além disso, paga menos imposto.
Deveria ser justamente ao contrário! Pagar menos imposto
quando é novo, porque a chance de quebrar no meio da via é menor e,
consequentemente, diminui a probabilidade de causar acidentes.
São medidas que juntas significam menor gasto com saúde
pública. Sei que mexer no bolso do governo é difícil, principalmente porque não
enxergam a lei da compensação, mas está na hora de governarem para a sociedade e
não em causa própria.
Para o Brasil crescer de forma sustentável é preciso
começar a desenvolver ações inteligentes e não apenas jogar palavras ao vento. Queremos
ser o terceiro maior mercado de automóveis, e ultrapassar o Japão, que tem um
mercado de aproximadamente 5 milhões de unidades por ano? Podemos até mesmo
vender como nos Estados Unidos (mercado de 1 milhão de unidades por mês), mas
para isso é preciso organização.
Precisamos deixar o pensamento mesquinho e pequeno de
lado para ter uma nação forte, ao menos quando o assunto é automóvel. Da
pequena oficina que atende 40 carros por mês até a maior das montadoras que
fabrica 800 mil veículos por ano, todos estão no mesmo barco. O setor como um
todo precisa se organizar melhor.
Montadoras, fabricantes de autopeças, concessionários,
varejo e atacado de autopeças, oficinas de reparo, lojas de revenda, locadoras
de veículos, enfim, todos os agentes envolvidos na cadeia produtiva precisam
entrar em sintonia, deixar de picuinhas e querer acabar com o outro, pois um
não vive sem o outro.
E sempre agir a favor do consumidor e do meio ambiente. A
começar pela inspeção técnica veicular, de preferência gratuita ao menos para
aqueles que passam logo na primeira tentativa.
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