Boletim Reparador Online
Número 38 – ano 3
Alexandre Akashi
Enquanto alguns lamentam, outros trabalham. Se por um
lado as montadoras miram o Brasil como saída para crescer, frente a estagnação
na Europa, Japão e Estados Unidos, por outro as fabricantes de autopeças ainda
precisam entender melhor o próprio mercado que estão inseridas.
A vinda de novas montadoras traz oportunidades de
negócios para quem já está aqui instalado, e também para quem pensa em se
instalar no Brasil. Além disso, provoca movimentação entre as fabricantes de
veículos tradicionais, que passam a ofertar veículos mais bem equipados e com
maior valor agregado.
É preciso salientar que montadora não produz autopeças.
No máximo, tem estamparia. Mas, como consumidor atacadista, dita o preço que
quer pagar. Assim, para a indústria de autopeças, fornecer para montadora significa,
muitas vezes, ficar refém de um grande cliente.
Há como escapar? Sim e não. Sim, pois há todo um mercado
de reposição que precisa ser abastecido. Quanto mais carros zero Km são
vendidos, maior é este mercado. Não, porque estrategicamente falando, é
importante ser fornecedor da montadora, e obter assim o rótulo de 'peça
original'. E também, claro, que uma vez sendo original, torna-se
necessariamente fornecedor das peças genuínas, aquelas vendidas pelas
concessionárias das marcas.
Nesta Automec, que começou ontem e vai até sábado, 20,
até agora duas novas marcas surgiram para o aftermarket: as japonesas Aisin e
Dunolp Pneus. A primeira é uma das principais fornecedoras da Toyota, faz parte
do grupo, assim como Delphi era da GM, e Magneti Marelli faz parte do grupo
Fiat.
Aisin faz cerca de 1/3 de tudo que é necessário em um
automóvel. É a quarta maior sistemista do mundo, e está no Brasil desde 1974,
mas só agora parte para o aftermarket, e deve apresentar boas opções de
componentes, pois trabalham com o padrão Toyota de produção. É um gigante que
estava adormecido e agora, ninguém segura.
Pneu Dunlop |
Já a Dunlop Pneus é tradicional na Europa, Estados Unidos
e Japão, já esteve presente no Brasil, anos atrás, e agora voltou com força
total, com planta no Paraná, onde vai produzir 15 mil pneus por dia para
automóveis, SUV e picapes. Em breve deve fazer também pneus para veículos
comerciais.
Almejam fornecer para as montadoras, tanto que já negocia
com algumas, e até o fim do ano contará com rede de 50 lojas oficias da marca. Chegam
para disputar um mercado acirrado, em que a briga por preço só consegue ser
superada pela qualidade com árduo trabalho de conscientização do consumidor.
Mas, quanto mais, melhor.
Estatísticas
Fornecer para as montadoras é uma estratégia. O balanço
de faturamento ideal em uma autopeças é 30% para montadoras, 70% aftermarket,
no meu humilde ponto de vista. Isso porque o lucro no mercado de reposição é
muito maior, sem dúvidas. E nessa proporção de faturamento, a perda de um
contrato de fornecimento para a montadora não significa falência da empresa.
Porém, para vender mais no aftermarket é preciso saber o
que, para quem e quando. No universo dos automóveis, há uma lacuna enorme em
estudos de mercado de reposição. Algumas empresas tentam, mas apresentam visões
míopes e turvas de um mercado grandioso, porém como em terra de cego quem tem
um olho é rei, fazem o que podem.
Assim, a maioria dos fabricantes de autopeças ficam
reféns dos distribuidores, que insistem em comprar apenas o que vende mais, o
que dá liquidez, para não correr risco de ficar com peças encalhadas no
estoque. Estão errados? De certa forma, não, porém não se esforçam para saber o
que o mercado precisa. Usam apenas o histórico de vendas como base para compra.
No entanto, há sim como medir as necessidades do mercado
de reposição, e este é um trabalho que deve envolver toda a cadeia, do
reparador ao fabricante de autopeças, em ação conjunta e coordenada para que
todos saiam ganhando, e com objetivo comum: evitar falta de peças no mercado,
um mal que assola donos de carros com maior valor agregado, que acabam ficando nas
mãos das concessionárias.
E, para o reparador, sobra apenas a manutenção de
veículos de baixo valor agregado, baixo índice de tecnologia e baixo custo, o
que gera um ciclo vicioso tal como a do slogan das bolachas Tostines.
Informação é, assim, portanto, fundamental para um
mercado que pretende ser grande, que quer atrair mais fornecedores, que quer
crescer. Estatísticas devem ser encaradas como primordiais para tomadas de
decisões com qualidade. É possível fazer isso, algumas empresas sabem o caminho
e este será o tema do próximo boletim.
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